terça-feira, 25 de novembro de 2014

Não sei fazer bolos

A minha cozinha é um sítio que me conhece descasco as batatas e choro para dentro da panela. Com a barriga encostada ao lava louça penso como fizeste avó como fizeste o jantar todos os dias com o coração a doer o medo a vida ao contrário? Como fizeste avó? A minha cozinha conhece todos os meus falhanços.

sábado, 22 de novembro de 2014

o amor é

o amor é bruto tem um cinto nas mãos o amor é torto tropeça e não me deixa dormir à noite o amor é velho e não me deixa fazer barulho o amor é rico e eu só uso roupa em segunda mão o amor é normal e eu sou estranha e penso difícil e preciso de imaginar o pior para que quando tu não vieres eu não morrer tu me bateres eu não morrer tu num caixão eu não morrer tu e a agulha eu não morrer tu o veneno para ratos eu não morrer tu a odiares-me eu não morrer tu tu tu. o amor.

Nunca é para sempre

Que tudo desapareça. Porque eu lembro-me de tudo. São como homenzinhos com picaretas na minha cabeça e no meu coração imagens que se repetem e repetem uns pés umas pernas uma camisa preta o café a rua as árvores em frente o Verão um vestido branco dias e dias e dias e dias e dias e dias. Tem de desaparecer. Os meses não acabam é uma loucura não sei como conseguem, os outros, continuar a caminhar. O medo e as dúvidas as certezas. As certezas. Que desapareçam os copos de cerveja e as noites as músicas que não sei os lençóis azuis escuros e os outros. a cozinha a tábua de alumínio onde se corta o pão a torradeira o meu coração partido o quarto ao lado o quarto ao fundo as mesas do café. Que morra que acabe que seja tudo há tanto tempo há tanto tempo e é agora. Que terminem os pesadelos deixa-me descansar deixa-me descansar deixa-me descansar.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Dessentir

Não sinto nada. É isto, não sinto nada. As coisas mundanas e até os livros as séries e os filmes as conversas, não sinto nada. Sentam-se e levantam-se continuo sem sentir nada. Tenho pena de não saber compor música porque preciso de outra coisa para além de palavras um grito fininho, não não, um sussurro, uma campainha em fundo, um piano e o silêncio muitas vezes e depois se calhar outra vez o silêncio. Não sinto nada e, por isso, não sei dizer nada.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Menina

Amava-o. Houve um dia em que no meio do círculo da dor e da raiva, esperava por ele. Ouvi a chave na porta. O meu nome era esperança e certeza. Não sei se o que percebi primeiro foram os passos trôpegos ou o olhar vazio. Era ele e não era ele. Em vez de me salvar, como eu esperava, empurrou-me para o centro do círculo. Hoje senti o mesmo. Achava que quando crescíamos, o horror terminava. Fui uma menina.

sábado, 8 de novembro de 2014

?

Descobri, ontem, que tens razão. Já andava a concordar contigo, sem te dizer ou me dizer, mas ontem percebi que não sou doce que me esqueci de como é ser isso não sei bem porquê mas incomoda-me um bocado acharem que sou assim porque me fizeram mal fizeram-me mal? Sei lá. O que é isso do Mal ou Bem, o que é ser doce, o que é que eu faço de tão estranho digo coisas normais eu acho que são normais as pessoas acham piada ficam a olhar para mim espantadas e eu não percebo juro que não percebo ficam confundidas e eu gostava de vos dizer que vocês, são vocês que me confundem.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Até ao fim.

Às vezes tenho medo que se alguém olhar para dentro dos meus olhos te veja a ti e ao teu riso e eu devia ficar feliz com isso não é o que dizem vamos guardar as coisas boas não quero que estejas dentro dos meus olhos em lado algum antes conseguias juntar todos os bocados agora só quero discutir contigo tenho esperança que os meus gritos acabem com o resto e nunca acabam. Só sei lutar.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sempre, não.

E não haver um sitio ermo onde se possa gritar.