terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Triste tristeza

Quanto tempo dura a tristeza? Quanto tempo, quanto tempo? E se ficamos nela para sempre como aquelas mulheres de negro como as velhas nas janelas como as pessoas que deixaram de ser bonitas de um dia para o outro? Tenho tanto medo. Nunca fui tão triste nem durante tanto tempo. Eu achava que nem sabia ser triste ninguém sabia que eu podia ser triste assim. Quanto tempo quanto tempo quanto tempo?

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Guerra fria

Os exércitos marcham em direcção ao futuro, que saberão eles que eu não sei? O que viram eles, que eu não tenha visto? Marcham numa cadência impossível com palavras que lhes ensinaram as mães sem rugas - ainda não tinham rugas e deviam ser felizes. Exércitos inteiros, com palavras e destinos que eu não sei imaginar ou sonhar e segredos. Eles têm segredos? Têm. E esquecem-me.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

saudades

de nadar de ter a certeza de tantas pessoas. Do comboio de revistas e livros no café de mim. de vestidos bonitos e sapatos vermelhos de regueifa broa de milho cevada. de ti pai TANTAS. do jornal da auto-estrada de roupa passada e de rua de esperança. de não ter medo de uma agenda de filmes para ver de cerejas de verão sem doer de calças largas na cintura de terra do Alentejo de mim de ter a certeza. Saudades.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Depois

Sabes quantas vezes escrevi o teu nome? (ainda escrevo o teu nome) Segui pelo caminho para lá da esperança, saltei o muro (tenho medo). Tu, ris. Pela manhã, tu ris. Gostava de rir contigo, mas não posso rir muito, rir de tudo ou esquecer. Escrevi o teu nome em mais de mil dias, foram mais, muitos mais e tu ris, pela manhã, como um pássaro sozinho.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ouve

Voltaremos a deixar cair os isqueiros?

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

anybody seen my baby

2009

Vou tatuar-te no pulso onde as veias se cortam mais fácil vou tatuar-te na carne que me deste, prender-te na minha pele, dar-te lugar em mim. Vou pedir que me encham os poros de tinta com o nome maior que tu tens que tu és que me encham este lugar vazio e pode ser que não me custe tanto ter deixado de dizer Pai.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Autópsia

Respiro muito devagar ou tento respirar até ao fundo a preparar-me antes da queda, por isso sei que ficaste com os meus pulmões. O olho esquerdo treme, julgo que treinei tão bem as mãos e o corpo para que ninguém soubesse o momento em que me desfaço, que o meu olho esquerdo decidiu acabar com o fingimento. Treme tanto, por isso sei que ficaste com os meus olhos. Fazia arroz de tomate e gostava de partir a salsa muito pequena era um bocadinho feliz um bocadinho crente e tinha fome. Nunca mais tive fome, por isso sei que ficaste com o meu estômago. Tento ouvir músicas novas e todas elas se misturam no mesmo ritmo e som como se só conseguisse ouvir o eco fundo dos meus passos sozinhos. Também os meus ouvidos? Podia falar-te dos meus pés (nunca mais pintei as unhas) ou dos meus lábios (esqueci-me do desenho), do meu peito e pernas, escondidas as curvas de um outro tempo, porque, se não as vejo, não me lembro do tanto. Devolve-me.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quieta

Deixa-me ficar aqui na minha quietude tresloucada, deixa-me ser a pior e a cruz, deixa-me estar deixa-me estar. Ontem havia uma folha, uma única folha, agarrada aos ramos nus de uma árvore. Essa folha era tão ridícula e tão bela. Fecha-me os olhos para eu não ver já não quero sinceridade nem verdade quero-me a mim sossegada quero ser quem eu sou. Parece tão fácil: ser quem eu sou. Mas isto só para quem nunca se viu apontado a si mesmo, como um punhal de carne que é afinal a nossa própria mão. Deixa-me ser o meu riso e a minha história, deixa-me ser grande e estranha, deixa-me estar deixa-me estar. Que eu quero-me como nunca me quis, que eu quero de volta as minhas pernas e o meu peito, que eu preciso de mim. Devolve-me. E deixa-me estar.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Dias maiores

Como é que és capaz de não compreender, diz-me, normalmente isto acontece por coisas como de facto não compreender. É lixado. De repente, levanta-se um tornado, roubaram-lhe a mãe, mataram-lhe o gato, pelo caminho devo ter destruído um país e rasgado a bandeira do clube de futebol. As pessoas na rua ficam transtornadas algo de grave se passa deitei-me com o irmão ou vendi as jóias de família. Há dias, com o coração mais em baixo (são muitos, por razões várias, normalmente distantes desta merda toda), em que baixamos os olhos, ouvimos para não perder. No fim, perdemos sempre. Espero que o Verão chegue rápido, preciso de beber cervejas na rua e de usar vestidos de algodão.