terça-feira, 31 de dezembro de 2013

"Os cavalos também se abatem"

É um romance negro. Do talento e crueldade com que, com grande facilidade, algumas pessoas podem transformar outras pessoas em não-pessoas. Mas, os cavalos também se abatem. 2014: tu não sabes ainda mas eu danço de olhos fechados e danço bem. Danço tão bem. Que comece a música.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Nome feio

Estava ali sossegada. Soprei os balões e comprei uma corda azul com que os amarrei aos postes. O meu menino fazia anos e eu fazia a única coisa que sei fazer bem: amava-o. Quando tu chegaste eras apenas tu e eu sabia do caminho que tinha feito e das noites e dias necessários à minha ainda recente transformação. Era um fantasma tranquilo, mas de coração sossegado. Depois, achaste que podias derrubar a minha casa plantar conforto nos olhos da minha mãe semear ternura nos braços das minhas irmãs. Eu deixei. Não fiz por isso, mas deixei. À tardinha, o meu corpo doía e o meu coração também. De coisas que tu não sabias que eram a minha vida e que eu levaria para a frente. Olhaste para mim como sempre fizeste como coisa que te pertence como coisa que podes amar e odiar à velocidade da tua fraqueza. Quando saíste eu adormeci e o meu coração batia ao ritmo de sempre. Só bateu mais rápido agora, que destruíste tudo... por nada.

Perdedor

Desiste tu que eu não desisto. Não volto atrás todas estas cicatrizes a dor tamanha de todos os meus erros sou tudo isto é certo podes escrever aí na minha ficha que eu não desisto. Não troco aquilo em que acredito pelo mais fácil e confortável. Não troco a paixão de que sou feita nem o oceano dos meus pecados. Sou pecadora, mas sou livre. Vou ser sempre livre. Neste intervalo podias ter aprendido tudo sobre força. Esta é a minha força: nunca voltar atrás. Eu não volto atrás. Mesmo quando parece mais fácil. Seria. Viverei morta de cansaço retalhada das cicatrizes perdida na cidade encostada a muros a olhar os buracos que se abrem debaixo dos meus pés. Mas continuarei a ser eu. De mim, quem passar, não irá dizer: aquela que ali vai desistiu. Nunca o fiz, não o farei agora. E o amor, o único amor que importa que nos faz voar por cima de edifícios e temer a saudade da mesma forma que se teme a morte, esse amor claro e puro, esse amor verdade, irá, de novo, cair-me aos pés. Eu sei. Porque não desisto. Desiste tu. Talvez hoje, talvez já amanhã, nuns olhos grandes e cheios de possibilidades, num cheiro doce e ameno, na aventura mágica que é cair, cair de pé, ficar no chão, correr todas as ruas e ao longe gritar aquilo que mais se sente que é mais verdade que é o vulcão que ninguém nunca, por mais que tente, conseguirá alguma vez apagar.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Pés de barro

Eu que te julgava tão grande e afinal isto. Queres curar o coração? Aceita. O amor que não pode ser. O amor que te entope o cérebro. O amor que é tudo menos essa dança manhosa que tu fazes. Não volto a dançar contigo. Eras o meu herói.

Intervalo

"Deus deveria recriar-me o mundo que não soube criar para eu ser nele todo e a minha solidão feliz". Vergílio Castelo, não sei se a tua mãe também vomitou quando te estava a dar à luz ou às trevas a minha mãe às vezes diz-me isso que vomitou uma coisa verde quando me estava a parir e olha para mim como se eu fosse um bicho estranho. Seria irónico se eu não fosse um bicho estranho. Acontece ficar triste porque a minha mãe é daquelas pessoas que não conseguem amar o que não compreendem. A minha mãe. Ontem estava a tirar sangue e queria chorar porque tenho medo eu que já fiz tanta porcaria que saltei de pontões que me apaixonei por pessoas perigosas tenho medo de coisas pequenas como se só esse medo me fosse permitido. A senhora de cabelo branco e casaco azul deu-me tantas festinhas nas pernas disse-me coisas e eu queria ter-lhe perguntado se ela podia ser minha mãe. O mais estúpido disto tudo é que já tenho idade para não ser medricas e carente ou para ter resolvido o terror do meu passado. Mas não. Assim como tu me podes dizer essas coisas que me esmagam a alma como se a culpa fosse minha como se eu não soubesse que é quase Janeiro e que foi num Janeiro assim que nos encontrámos. Entretanto as pessoas doces e certas estão de volta à tua vida e acho bem isto foi só um intervalo ainda que isto seja eu,o bicho estranho, que tu nunca entendeste.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A sério?

Ano mau ano mau que parecias tão bom tenho mesmo de aprender tudo até ao fundo? Ano mau, enrolaste-me bem, quase que eras o regresso de mim, mas não és. Continuo com medo quero comer um Pai Natal de chocolate e gostar. Hoje, na estrada, percebi que me abanaste e cuspiste para o mesmo sítio e esqueci-me ano mau que quem eu amo está tão triste que quem eu devia proteger está tão triste ano mau, que bem que me enganaste ano mau. Sinto saudades do cheiro a perfume estamos todos a ficar pequeninos como naquele livro de Boris Vian. Tenho saudades do meu pai, de pão com chourição, e da minha avó. Tenho saudades das minhas gavetas pequenas e dos meus sonhos possíveis. Não faço nada bem.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Tarde

Disseste que era como as feridas que demoram mais tempo a sarar (alguém aqui comenta que ela ficou mais magra e eu gostava de desaparecer para debaixo de uma manta às vezes não consigo fingir nem um bocadinho) e eu não sei se é porque agora tenho 35 ou só porque antes tinha tempo. Preciso de tempo para saber. Não nos podem morrer amores ou sonhos e continuarmos a ouvir o despertador. Não podemos. Eu preciso de tempo e não tenho tempo algum. Dizem-me que não, dizem vai continua, mas é urgente parar ainda que mais nada pare. Sinto-me tantas vezes no meio da rua como se o ruído do mundo fosse a turbina de um avião e continuar a dizer bom dia e boa tarde ter de apertar as botas e usar um vestido (agora tenho de pensar no jantar e não posso, tenho outras coisas para fazer como ficar sossegada a perceber). Preciso de tempo para saber das coisas, tempo sem relógio ordem confusão noite e dia roupa lá fora segunda e sábado Natal e aniversários estou farta de calendários. Chega (e o miúdo sai às quatro). Porra.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Hora de jantar

Como é que mudo o mundo se ele tem de jantar às oito? Talvez não lhe dê o jantar e ele venha comigo mudar o mundo. Desconheço se com ele também me foi dado outro poder, o de o levar comigo para o outro lado. Este lado. Não sei se estou do lado certo então que direito tenho de o impedir de viver conforme as regras? Não, não posso mudar o mundo à hora de jantar. Talvez depois. Chamo gente cá para casa e ele acorda (as crianças têm de dormir cedo, dizem). Às vezes, faço o que me dizem. Muitas vezes, por ele, outras porque não sei. Não posso mudar o mundo nem apaixonar-me por ti, porque ele janta às oito.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Já lhe sinto a falta porque

ele era pior do que eu e fazia-me lembrar de mim mesma. Éramos amigos acho, mas, juntos, estávamos sempre sozinhos. Ele nunca me amou talvez tenha gostado de mim de vez em quando. Mas eu nunca seria, assim como ele nunca seria. Pertencia ao que não se conta e eu vou ter saudades dele para sempre.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Pouco

Tens de me dizer que sou bonita acreditar nisso admirares-te por isso és tão bonita cair-te assim da boca e ser verdade.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O que falta (ainda bem?)

Quando estamos o que trago é tudo aquilo de que preciso e tudo aquilo que mais temo. O que me falta? O que te falta? Porquê? Finge vamos fingir porque se fingirmos é mais fácil não posso continuar a dizer alto que isto é nada. Mente-me. Só para me agradar.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Ainda não

O que faço agora que tudo parece mais leve é como trazer uma nódoa negra estás no fundo do meu riso. Eu nunca te quis destruir e aí estás tu vazio e sabes eu estava apenas confusa como uma criança. No entanto, era (sou) uma mulher. O que faço agora que existem jardins e gargalhadas fáceis eu sei eu sei que não são nada. Mas eu vim da guerra e matei-te como dizes deveria ficar à tua porta e colocar flores sobre nós? Continuo a ser má perdedora. A querer-te no mesmo sítio enquanto não sei.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O monte

Os teus pés tão feios mas por isso mesmo belos e as tuas costas que me provocavam confusão e amor. No tempo em que os teus olhos podiam ser tanta coisa lembras-te quando mentíamos um ao outro? O tanto que mentimos que eras grande e eu segura lembras-te quando fingimos que queríamos as mesmas coisas quando nunca quisemos? Eu sei que tu não eu sei que tu não. De todas a coisas que esqueci a cidade que não me disseste olha esta é a cidade dá-me a tua mão eu mostro-te a cidade. O teu monte. Diz-me, quem te arrancou o coração do peito à dentada quem ao mesmo tempo de atravessou a direito com coisas certas, não viu isso porquê? Cala-te. Agora, cala-te. Esquece as flores.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Lado C

Há coisas que não posso dar, dizer, sentir. Não porque te pertencem a ti. Pertencem-me. Eram a minha casa e a minha razão. Tu não sabes. Nem tu. Então, quando suavemente percebes sítios de mim, encontras um lado sim e um lado longe. Até as palavras, que as digo, sem as poder dizer e digo-as. É como se matasse. Também morro. Farás o mesmo. Fizeste o mesmo. Não ficas a meio da frase atravessado por dores? Só quando me rio é que te esqueço. Não me lembro (já) de me rir. Tu és o bom, nós somos maus. Somos maus? Eu sou.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

janeiro

Eu lavava-te o cabelo comprido com anéis de promessas. Éramos crianças e não sabíamos que vivíamos o último amor antes de crescermos. Nesse tempo tão tão distante o pai ainda era vivo e tu alcançavas o sonho. As tuas paredes ainda tinham desenhos e seríamos belos para sempre. Não faltava nada. Tempo. Desejo. Possibilidade. Encanto. Sobrava tudo. Medo. Ciúme. Ilusão. Éramos crianças e vivíamos a última vez antes da noite dos caixões abertos e das palavras que dizem nada nada nada nada nada nada. Eu tinha sapatos de salto alto vermelhos que entretanto se gastaram e um vestido encarnado hoje velho como nós. Tínhamos tudo. Mas éramos crianças e vivíamos o último amor. "Will you still love me when I'm no longer young and beautiful?"

domingo, 27 de outubro de 2013

23h15

Tão bom por não ser pecado e ser leve e não tão fundo tão bom por ser longe longe e morno e ser como amor a fingir. Tão mau por ser a custo e a preço alto por lembrar coisas e não ser igual ensaiar gestos e logo os desfazer para ser outra coisa e afastar a memória do mais profundo. Tão mau ser só agora por agora. Por hoje. Por tudo o que ainda aqui está.

3h45

Agora que sou um fantasma tranquilo, as tuas mãos no meu corpo sabem a coisas normais sabem bem e isso é tudo (o meu amor era tonto). Subo pela rua e não ficas à janela a ver se está tudo bem a gostar um bocadinho mais de mim só acompanhamos com o olhar aqueles pelos quais ainda guardamos esperança (o meu amor era tonto). Quando discutimos e discutimos tanto e já nem sequer pelas mesmas coisas antes sempre e só pelo facto de ainda existirmos, não fico triste afasto a tua voz e penso nas compras ou olho para o relógio na roupa por estender (o meu amor era tonto). Sei hoje que se te dissesse e não vou dizer que te amo seria tão estranho como combinarmos um jantar e tu apareceres agora quando não vens penso só o que fazer com o que descongelei em excesso como aquilo que esperei de ti (o meu amor era tonto). Não penses que não sinto que te traí sinto uma culpa qualquer. Do meu amor tonto (o meu amor era tanto).

sábado, 26 de outubro de 2013

Tudo bem

já me partiste o coração como se partiu o vidro do carro puff pedaços minúsculos de vidro a explodirem na minha cara estupidamente eu sem perceber a roupa o volante o banco as botas tantos vidros até dentro do peito o horror que não é ainda dor (demora mais a perceber-se). Por isso é que agora que tudo se tem vindo a partir com ainda maior frequência eu fico apenas rendida e aceito. Aceito que o tecto desabe. Aceito que tudo seja silêncio. Aceito que não sejas só tu. Nem eu. Fecho os olhos é como se soubesse que depois deste vidro deste tecto deste carro deste dia desta ausência destas palavras deste muro e deste buraco deste deserto aceito que nada seja melhor outra vez. Aceito sem me lamentar já sem ir viver de outra maneira a esbracejar a espernear tantos coices que eu dei e nada. Aceito que é o que fazemos depois do fim.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Claro

Numa nesga qualquer reencontrámo-nos combinámos coisas bonitas amenas ainda a medo devagar com jeito e cuidado e claro que a vida logo tratou de espatifar tudo há placares de perigo em tudo o que fazemos há buracos zonas sem rede coisas estúpidas. Por nada nada se resolve por tudo tudo se complica. Deixou de ter piada. Já não me apetece rir. Eu também tenho uma cama e um fogão e muitas outras coisas que agora já não sabes quais são.

sábado, 19 de outubro de 2013

OK

Então desisto. Ganhem todos já não quero ganhar não me interessa a justiça fiquem os maus os cínicos e prepotentes os que não sabem mas fingem saber os que mandam fiquem esses a mandar. Não vou responder aliás nem vou sequer, calada, continuar a combater. Senhores, quero lá saber, desisto se isto das coisas que sei afinal nada valem agora também não vou para a rua gritar desisto desisto desisto. A mim não me apanham com faixas nem com lágrimas não vou aviar receitas de anti-depressivos porque isso ainda seria combater. Não sirvo para prisioneira de guerra. Vou desistir da maneira invisível até que me apague existem alturas em que nos temos de resguardar. Resguardo-me. Não vou contar aos amigos combinar cafés saídas e livros para esquecer. Não se esquece. O que esqueço, agora, é o corrector. Não me apetece esconder o cansaço o sono e a infelicidade. Desisto como quem já não se importa se chove ou se faz sol. Se chover depois lavo o cabelo se transpirar é pior mas tão cedo não chega o calor. Não há melhor estação do ano para desistir. Fiquem com tudo até comigo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Beleza

Existem mãos que nos fazem bonitas como se transformassem a nossa pele em milagres hoje que é outro dia as minhas pernas são só as minhas pernas e têm mais anos do que a verdade os meus braços servem para carregar coisas às vezes quando lhes passo creme fico espantada por continuarem aqui assim como o meu cabelo. Existem mãos que nos suavizam o cabelo andamos na rua e somos melhores. Os gestos que se repetem no banho é como a vida inteira pesada em cada movimento e quando olhamos para o espelho baças e desencontradas percebemos que a beleza a coragem a força herdamo-las dessas mãos que desaparecem. Até quando existiremos nós?

domingo, 6 de outubro de 2013

Filme

É uma estranha sensação descobrirmos que somos nós os maus da fita. É um bocadinho cómico e um bocado trágico afinal não queremos ser sempre dos bons? Sou a má da fita. Nada a fazer.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Quando é que foi?

É preciso energia para amar. Encontrei uma caixa com coisas que me deste. Não quero encontrar caixas não nos quero com pó. As coisas de todos os dias foram elas que me roubaram de ti ou foram elas que me disfarçaram a verdade? Acho que fomos tantas vezes felizes foi a caixa que me lembrou ficámos cínicos e doentes acho ficámos onde afinal? É preciso boa fé para amar e eu deixei de acreditar em muita coisa tenho caixas o que é que tu tens? Não digas bem de mim não digas nada se puderes fica parado nesse instante até que eu volte a acreditar não faças nada peço-te sou egoísta tenho a certeza que isto não são só palavras que ficavam aqui bem. Mas é mentira. Quando é que as coisas que me deste ficaram em caixas debaixo de cobertores e de roupa que já não me serve? Ainda me serves? Eu acho que sim. Serves-me tão bem.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Inverno

No meio do amor vivemos magros de tanto comer. De tanto sorver. Não existe uma manhã igual. Pele. Cheiro de folhas no chão. Outono e outras coisas. Há quanto tempo não estou apaixonada por ti? Como um urso, neste Inverno que vai demorando, hiberno. A dor cansa e mói. Quando falo de amor toda essa urgência que era. E não trago uma única pena em mim, sabias? "Oh insensata busca, ingenuidade, e a dor infinitamente triste de perdê-la". Ou qualquer coisa assim.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Neblina

Há uma neblina em Setembro que talvez sejam os meus olhos cansados. Continuamos em frente. No centro do teu peito existe uma árvore queimada. Eu tenho a mão do menino na minha e, por isso, o mundo não me mete medo. Quando me sentar numa pedra, daqui a tantos e tantos Verões, eu saberei das folhas da árvore em frente à tua janela e encontrarei todas as respostas.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O que tenho a dizer é isto

http://www.youtube.com/watch?v=WP8GI_rsGwI

domingo, 18 de agosto de 2013

Cidades

Por duas vezes todo o caminho que fora feito ficou destruído. Por duas vezes o tremor começou nos pés, um formigueiro repentino que explodiu no coração. Fiquei com mais medo agora. Deitei-me na cama e percebi a exaustão. Quanto tempo demora a loucura? Quantas vezes caímos no mesmo lugar? Prendi os lençóis com as pernas e tentei respirar. Li um livro inteiro. Queria que esta cidade tivesse o meu nome. Não tem.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Princípio

Talvez o amor já não seja uma questão de vida ou de morte. E ainda bem.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Repetimos sempre o mesmo Inferno?

Ar. Faltava-me o ar. Tu pensavas que eu queria gritar. Mas eu estava só com medo. Não queria gritar. Queria fugir para o mais longe possível do horror que sentia. Repetimos sempre o mesmo Inferno? Mãos e pernas, tão fortes, a prenderem-me, eu, frágil, sem poder defender-me. Repetimos sempre o mesmo Inferno? Ar, eu só queria ar. Houve um tempo em que só quis amor. Tapaste-me a boca e prendeste-me os braços da mesma maneira que se prende um animal do qual se tem medo e então se enjaula, um animal que não compreendemos e então matamos. Repetimos sempre o mesmo Inferno? Ar. Amor.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Viver muito

Sei. Será possível saber e ser isso a tristeza? Não querer nunca mais o fundo poço onde sou a mais feliz e a mais infeliz de todas as pessoas.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Tanto tempo

Porra, sabes o que é que me lixa a sério e como é que sei que tudo mudou para além de estar a escrever porra? É que bastou eu desistir para desistires comigo de todas as coisas que podíamos fazer juntos foste escolher esta eu sei dá menos trabalho e então encontras a paz que tanto gostas não tens toda a morte para descansar? Não, porra, o que me irrita mesmo é o tempo que perdemos sem dançar sem rir a remoer não em verdade o que me lixa mais ainda é que podíamos ser tudo não tivesses tu metido na cabeça que eu sou o gigante dos teus medos. Porra, era tão fácil, que chega a ser cómico, eu aqui calada a saber das mil e uma aventuras traições e deslealdades que me inventas quando eu estou apenas a resgatar as penas. Tanto tempo, sabes, tanto tempo.

domingo, 7 de julho de 2013

De dentro para fora e lá fora

Voltei a dançar e isto assim não era nada se dançar não quisesse dizer tudo. Danço e ah é como se risse foram tantos Verões a dançar como se morresse. Danço como se andasse de baloiço fecho os olhos e voo e, quando me deito, a dança acompanha-me, como se só agora a morte que vi o medo que senti e tudo o que um dia foi perdição acabasse finalmente. Fim.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Verão

Quando Junho terminava tínhamos já tudo: sal no corpo, olhos de limo, por vezes até um amor perdido. Depois, Julho corria e era como um Junho gordo a rebentar, uma sesta prolongada. Castanhos, mudávamos de praia e em Agosto prometíamos voltar. Setembro não existia. Em cada dia quente, há um Verão inteiro.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Acho que foi quando disseste que eu não dançava assim tão bem. Claro que não danço. Não vês? Nunca foi a dança. Dançava para ti. Para te fazer sorrir. Para te seduzir. Para ser feliz. Acho que foi quando disseste que eu não dançava assim tão bem. Como se isso realmente importasse. Como, se assim, não tivesses explodido o que restava. Tudo. Não reparaste. Não viste bem. Foi como se empurrasses a minha torre de legos. E o melhor de ti se desfizesse como a poeira em que te encontrei.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Charles Bukowski (escrever dói)

"Sim, eu odiava ter que me levantar da cama de manhã. Significava que a vida ia recomeçar e depois de se passar a noite inteira a dormir cria-se uma espécie de intimidade especial que fica muito mais difícil de largar. Sempre fui solitário. Desculpe-me, creio que não regulo bem da cabeça, mas a verdade é que, se não fosse por uma ou outra fodidela, não me faria a mínima diferença se todas as pessoas do mundo morressem. Eu sei que não é uma atitude simpática. Mas ficaria todo refestelado aqui dentro do meu caracol. Afinal de contas, foram as pessoas que me tornaram infeliz". Charles Bukowski

Cicatriz

Eu não quero um amor que me salve sempre, basta que me faça respiração boca a boca de quando em vez. Não preciso desse amor. Não acredito nesse amor. Não me ajeites as almofadas nem a vida. Não me faças o jantar, prefiro que me tires da prisão, sendo eu culpada. Eu quero um amor que me ame pela cicatriz.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

E então

Se eu soubesse viver assim se já tivesse visto talvez as respostas fossem mais precisas. Como navalhas a direito. Arremessos de uma bola num espaço quadrado com todas as variantes calculadas. Instinto. Continuo a gostar de chapéus. E de óculos de sol. Fora isto de que gosto, não sei o resto. E o que resta é tudo. Não digo não escrevo não sonho amor porque prefiro a casa aberta e morna que fechada e quente. Ou talvez não prefira e seja só melhor assim. Sinto-me como se à espera da resposta de uma carta que não enviei. Gostava de voltar a acreditar em Deus. De ainda ter tempo para acreditar numa data de coisas. De ainda existir espaço para erros que cometi. Gostei tanto de os cometer. Os meus erros sempre foram como gargalhadas. Será que me tornei cobarde? Não me acabei só eu. Tudo o que à minha volta era certo e familiar acabou, um dia acordei e era como se não tivesse cicatrizes. A vida que eu conhecera não existia mais. Foi num instante. Parece-me que foi num instante. Eu que fui a todo o lado nunca me soube tão da raiz. Faz-me falta a raiz. Descubro, a meio de uma vida, que passei o tempo todo à procura da raiz. E, agora, que ela se desfaz a cada dia, mais calada fico. A mana que já não mora ali. Amigos que tinha, gente como família, que não sei. Não sei deles. Não sei o que lhes aconteceu. Pior: não sei o que ME aconteceu. A outra mana que está aqui e ali, o corpo aqui, o coração tão lá. E a outra ainda que não pode ser feliz no único momento em que só deveria ser feliz. O pai que me morreu. A mãe que enfim. A avó que já não me ouve e eu que tinha tanto para lhe perguntar. Olha-me e eu vejo nela tudo o que sei e dói-me. Dói-me tanto tanto isto ter ficado tudo assim. Se eu soubesse, se já tivesse visto, talvez pudesse temer ou não temer e não não é a vida é como alguma coisa aqui por dentro, não sei se bicho, não sei se dor, não sei se nada, mas que muda. Muda tudo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Todo o amor

O teu amor de tâo perfeito é uma concha. Se não fosses tu, meu príncipe, o mundo tinha acabado. A tempestade veio e agarrei-me a ti e por vezes sinto culpa por me agarrar assim a ti. Quero que voes, por isso é que te deixo ir. Ainda que só os teus olhos me lembrem a claridade, ainda que no meio do caos, tu me lembres a certeza das coisas boas. Se não fosses tu, meu príncipe, não teria sabido que sou capaz de amar. De doar. De ser melhor. Se não fosses tu nada disto valeria a pena. As manhãs tortas, as saudades, o mal do mundo, os fracassos, os enganos, a noite má. Não existem buracos agora. Porque conversamos e crescemos juntos. Nem sei se mereço tudo aquilo que já me ensinaste.

sábado, 13 de abril de 2013

...

Tenho mais duas rugas na testa. Volto do café e a minha sombra mostra-me os cabelos compridos. Tinha-me esquecido que tenho cabelos compridos. Os vizinhos falam sobre o jogo de futebol. Ela responde-lhe coisas como "vais ver que ainda marcam". Ouço os talheres a rasparem os pratos. Sei o quanto poderia ser tão feliz assim. E tão infeliz assim. E já não me lembro de quando tudo começou a ser demasiado complicado para mim.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Antes

Nunca vamos ser felizes como inventámos, pois não? Como quando ainda éramos apenas um sonho na cabeça de cada um, uma ilusão. Nunca mais vamos ser felizes assim, pois não? Mas tínhamos de ver se era verdade, não tínhamos? Não sei porque razão continuámos a inventar, mesmo depois de sabermos que só fomos felizes no momento antes do salto. Já não sei se saltámos ou se fui que te empurrei.

sexta-feira, 29 de março de 2013

É assim

Sou a pior. Tu sabes. Não te faço feliz. Não me fazes feliz. És melhor, porque precisas de menos e eu preciso sempre de mais. Podia dizer que não tenho culpa. Mas tenho. Não me acostumo. Aterrorizo-me com o costume nessa medida igual em que o desejo. Se ainda não me encontrei, como queres que te encontre? Dorme comigo esta noite e a seguinte trinta dias seguidos que haverei de descobrir que não era isso. Sou a pior. Tu sabes. Por momentos, durante algum tempo, julguei que me fosses ensinar isso de esperar e do "logo se vê" e de adormecer sem um vulcão no peito. Não sei. Nunca soube. Sou a pior, mas, acredita, não estou zangada contigo.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Fogo

Quem tem um fogo no peito, tem sempre um fogo no peito. É a criança que se atira da árvore e que cai em cima das urtigas e, ainda assim, volta a subir à árvore, na esperança de que dessa vez arda menos. É o velho que usa laço para ir à mercearia e que dança mais devagar, mas dança. O fogo de que somos feitos não se extingue. Nascemos com ele, morreremos com ele. Temos pena, é certo. Todos os desamores. Tantos poemas. E mesmo quando se acabam as juras, sentamo-nos ao lado e estarmos ali é um compromisso de honra. Quem arde, arde sempre. Na fúria e no amor. Faz parte. Quando decidiram que iríamos ter cabelo louro e olhos verdes, quando as células se multiplicaram e os genes ditaram os dedos dos pés e o sorriso de esguelha, ditaram-nos também esse fogo que uns chamam Inferno e outros compreendem. Os que ardem, ardem sempre. Resta esperar. Ou não. Viver em fogo afasta-nos das sombras.

domingo, 24 de março de 2013

Demoramos muito tempo a recuperar a fé, quase o mesmo, mais um pouco do que o tempo que levamos a perdê-la. Não se perde a fé num instante, não basta um golpe, vai-se perdendo, como sabem. Não nos apercebemos, mas a fé vai encolhendo, até que nos damos conta que se foi inteira, quando precisamos desesperadamente de acreditar e não encontramos esse caminho. É assustador perder a fé, leva tanto tempo, há quem nunca a perca e isso é tão bom. Quando se perde a fé o mundo é um lugar perigoso, mas nós somos o mal pior. Perder a fé é perder-mo-nos de nós mesmos, balbuciamos coisas e já não acreditamos sequer no passo à frente do outro. Tudo o que acontece é um acidente. Em perfeito desequilíbrio, caímos a pique. Rolam cabeças, amores, amizades. Não sabíamos, mas era a fé que nos segurava. Demoramos muito tempo a recuperar a fé, quase o mesmo, mais um pouco do que o tempo que levamos a perdê-la. E como um balão, à medida que vamos soprando ar, algo dentro de nós se esvai, não sei se a juventude, não sei se a ingenuidade, mas acho que ainda que a recuperemos de novo, é outra fé, uma melhor até, mas uma nova. E é por isso que, às vezes, vivemos muitas vidas num instante.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Milagres

Há milagres escondidos debaixo das pedras, é preciso virá-las ao contrário. Se reparares bem, no meio de uma frase, há uma palavra que é para ti e que pode mudar a tua vida. Eu vivo ainda embrulhada em dilemas à procura das respostas tudo me faz confusão ainda é tudo uma grande amálgama de emoções e ainda assim. Ainda assim. Pedaços breves de esperança. Olhos bonitos, um banco de jardim vazio quando tudo te dói, o telefone em silêncio quando não apetece uma palavra atrás de outra palavra. O que nos salva, no meio das ruínas, o que nos salva? Os milagres debaixo das pedras. As palavras que são para mim e que irei ouvir.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Contas mal feitas

Quando o meu vizinho de cima se matou e depois o filho mais velho até que, por fim, se matou também o mais novo, não perdoei a nenhum. Quer dizer, nada havia a perdoar, mas achei estúpida essa morte assim marcada de corda e veneno. Explico: esse desistir da vida, das mãos dela, dos olhos dos miúdos, do candeeiro aceso à noite e do cheiro do after-chave. Lançar-se para o infinito pela única razão em que não acredito: o dinheiro, ou a falta dele. Esta vergonha que assaltou as pessoas. Percebo a desistência de quem já não tem com que alimentar a criança, posso ceder na consciência de quem por causa de uma empresa que fecha atira para a miséria dezenas de famílias. Percebo, mas ainda assim, engulo mal, engulo a seco. A vida ainda vale mais do que o dinheiro o carro que já não se tem as casas que se perderam. Matou-se, coitado, tinha vergonha. Vergonha do quê exactamente? De ter ficado a dever? Que se matem, que desistam, que digam pronto isto para mim acaba aqui e ponto final. Matem-se por amor ou desamor, pela perda, porque se fazem contas à vida e entretanto este lado não ganha. Que nessas contas não entre o dinheiro a fortuna arruinada impérios vãos. Vergonha é quem se mata porque não quer ser pobre. Não faminto, mas pobre.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Esquecer

Sabes que o meu amor por ti vem antes da raiz é disso que preciso que te lembres e que guardes. Não digas nada eu sou apenas uma mãe aflita uma mulher com dúvidas e perdi as chaves de casa. No teu canto ouves as vozes e são as do teu avô e o doce que a tua mãe faz tem chocolate e natas. Eu, amor, desconheço o imutável. Não me perguntes nada, eu sou só alguém com tudo a perder. Não perguntes nada porque não é o caminho que nos faz estamos na estrada mas não somos a estrada e eu morro de pé como se diz como a árvore mesmo que os olhos secos mesmo que tudo esteja errado ainda que saiba que não deveria ser assim. Amor, canta-me melodias doces ao ouvido ou fala-me dos teus vizinhos porque eu sou como quem vem da guerra e não quer falar disso. O meu amor vem antes ficará depois tu sabes e ainda que nunca entendas os meus pesadelos que seja impossível explicar-te as nódoas negras depois de tudo isto eu quero lembrar-te como o anjo que nunca foste e de nós como o sonho que vivi um dia. E ese dia único me basta e bastará para que possa levar esta aflição e esta tristeza calada que nem eu sei. E esquecer.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Aqui

Não me fui embora. De um momento para o outro, tudo me pareceu irreal. As cadeiras. A cerveja na rua. O filme novo. Os primeiros passos da criança. Eu, que vos desejo tudo de maior, deixei de apetecer. E de aparecer. A vida são metades, gomos. Comemos com satisfação e um dia não apetece. A minha verdade pode ser a minha ausência. Mas nunca o meu desamor. Eu sei que isto pode ser difícil de entender. Não me fui embora. Os que sabem quem eu sou, continuam.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Boys don´t cry

As mulheres choram. Claro. É a notícia o filme o coração a saudade o amor e o desamor a palavra feia o espelho o medo o mundo todo. Elas choram quando eles caem e vão beber uns copos elas choram por eles pela dor que, nelas, é a consciência do que virá depois. A pele. Os copos nos amigos. As mulheres choram porque eles não sabem chorar. São viúvas. As mulheres da Nazaré. São mães. Todas as mães choram. São Deusas inundadas em lágrimas que dizem ser mimo e hormonas e fraqueza e tolice e estupidez e nada de nada. Felizmente aprendi a chorar. E com toda a humildade ajoelhei-me aos pés das que choram e exercitei o mea culpa. É preciso ser tão grande para chorar.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Imperfeitos como eu

Os meus amigos são os pecadores de alma tão limpa quanto a verdade. Têm muitas crenças: em deuses com nome, em substâncias, neles mesmos ou em coisa nenhuma. São todos maus e por isso são todos bons. Os meus amigos ligam às tantas da noite e fizeram asneira e então rimos e eu digo deixa estar eu sou pior e eles respondem não eu é que sou e então rimos e ficamos aliviados por sermos todos iguais. Os meus amigos acreditam em coisas parvas como eu, riem-se de piadas negras, guardam borboletas em frascos, escrevem tão bem, cantam tão bem, pintam tão bem, amam tão bem. Quando fazem tudo mal, quando faço tudo mal, encontramo-nos e dizemos coisas como para a próxima vai ser melhor e naquela mesa sem julgamentos somos os melhores amigos de sempre e vamos ser para sempre assim: amigos inquebráveis de juramentos sem livro ou mão no peito. Os meus amigos nunca são ex-amigos. Isso não existe. Não há traição. Os que entretanto se perderam estão apenas a encontrar um outro caminho. Um dia destes ligam e dizem não valho nada e eu digo não valho nada e rimos de novo e ficamos descansados por sermos todos iguais. Os meus amigos não usam máscaras perguntam pelo miúdo com sinceridade quando não perguntam é porque não lhes apetece. E eu gosto disto, destes meus amigos tão puros como a fé tão turvos como um rio. Tão meus. Imperfeitos, nessa medida perfeita de amar alguém.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sortuda

A sorte que eu tenho é achar que tenho sorte. Não há segredo. Nem tenho sorte nenhuma e, no entanto, tenho toda a sorte do mundo. A sorte dos teus olhos serem verdes verdes e saltarem para dentro do meu peito toda essa meiguice que não há igual. Não há igual meu pequeno. Há quem fale em estrela "a estrela que tu tens". Qual estrela? A sorte que eu tenho é acreditar em estrelas em coisas que "pum" vão e acontecem, em clarabóias quando, na verdade, é só uma telha de vidro. A sorte que eu tenho é um palhaço pobre mas é inteiro, uma bailarina de uma perna, um sorriso sem um dente. Mas é uma sorte danada. Então toda esta sorte invisível e inexistente de tanto não ser, é. "Joga, que tens sorte" e depois não percebem porque não jogo. A sorte que eu tenho está cá dentro, é o que me faz abrir os olhos pela manhã e acreditar em poesia, não ter medo, vestir roupa esquisita. É uma ingenuidade e é por isso que eu tenho toda a sorte do mundo e uma estrela.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Norte no Sul

No Norte, quando se ama, acaba tudo. Começa tudo. Nunca mais esqueceremos. No Sul nada acaba de repente, há mais maneiras, uma forma diferente de nos encontrarmos e de nos deixarmos. No Norte somos todas rapazes. Há um brio qualquer, uma razão secreta para não haver cavalheirismos. Somos iguais e então é uma guerra. No Sul que parece tão fácil é sempre tudo mais difícil. Se nos arrebatam, estamos doidos, se somos nós a arrebatar, estamos doidos. É assim e eu sei que não é por mal. No Norte matamo-nos, matamos, fazemos um pé-de-vento, há sempre confusão nas estações de comboio. E bêbedos, muitos bêbedos. Metade delas, das bebedeiras, por causa deles. Dos amores partidos. No Norte, uma senhora tem sempre um rasgo de aventura escondido no peito, o Norte é duro, torna-nos duros e desvairados quando amamos. No Norte ama-se tudo, a família tonta, os ricos e os pobres são histórias que se contam casa sim e casa não. No Norte, onde tudo importa, tudo se aceita. Comem-se tripas. Mas no Sul não. No Sul apaixonamo-nos mais vezes e quando damos conta fomos levados. É do calor. E não era assim tão importante. Quando, no Sul, um amor nos arranca do chão, esse é o único. E lembramo-nos do Norte: violento e terno, como todos os grandes amores.