segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Asas

Neste palácio em ruínas descobrimos a fraternidade que parece uma palavra dos palanques e é tão grande. Fraternidade. Agora que este ano maldito termina. Agora que os mortos, às tantas, já podem caminhar, reconhecemos todas as nossas fraquezas e como se em oração não fazemos delas forças. Mas fraquezas. É preciso olhar de frente para o que nos encolhe e olhar fundo para aquilo que sempre fomos. Pleno voo. Em 2013, voaremos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Filho meu,

És o rebelde de coração fantástico, um admirável ser que ora corre a mil como o McQueen ora se senta no meu colo a falar de coisas como envelhecer como amor como perda como saudades. Tens toda a poesia do mundo dentro do peito e toda a sede de quebrar os limites. O que pode ser um problema. Mas acredito-te. Tens-me mostrado, nestes seis anos, que tudo o que, em ti, pode ser difícil, não é impossível. Falas-me de vitórias que são conseguires ficar sentado na cadeira da sala de aula e eu que te queria poupar a sistemas impostos mas que sei o quanto é preciso, às vezes, fazê-lo, dou-te um abraço, que é um orgulho e um espanto em mim. Desde aquele dia, era Domingo, em que a coisa primeira que fiz foi cheirar-te, como um animal cheira a cria, eu soube que te haveria de amar assim, como a parte melhor de mim, a que tu és e isto não são palavras, filho meu, isto é a verdade. Todos os filhos são mágicos, mas tu és a magia maior. Obrigada. Parabéns meu amor.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O mês da chuva

Quando acordámos, nesse Novembro, todos faziam o de todos os dias: escovavam os dentes, vestiam a roupa, comiam à mesa e as notícias eram a casa. Menos nós. Eu. No mês da chuva tudo se passava como sempre se passou e ainda que de muitos lados viessem as vozes que ouço, era demasiado. Sempre foi demasiado. As rotinas. Lavar os dentes. A roupa. As notícias. Debaixo da primeira linha da pele estamos. Estou. Por isso é que é tão difícil de explicar. Os sinos que ouvíamos faziam-nos lembrar de outro tempo e o dia um dois três e eu menos isso tudo. Tu dormias e, ao acordar, era um dia mais. Como perceberias que eu não tinha dormido? Que, ao acordar, colavam-se em mim os sonhos, que os outros lavam os dentes e há notícias em casa e que, tantas vezes, a rua não é nada. Que eu passo por baixo ou por cima, pelo meio, e que debaixo da pele sou outra coisa? Achavas engraçado nesse Novembro em que nos quase apaixonámos. Esqueceste que toda a diferença é, também, um fardo. Um acto de coragem mas principalmente nada disto. É o que é. Sem remédio. Uma inevitabilidade. Nada, em mim, é calculado. Sou assim porque sou assim, se fizer um esforço não sou eu, debaixo da pele em cima da pele, no meio da rua, por baixo, é preciso aceitar. Quando chove nesse Novembro que é sempre o mesmo mês na chuva e na vida tu viste qualquer coisa que não era. E ainda que eu te tivesse tentado explicar, nada poderia ser tão difícil de aceitar. A absoluta diferença, que não procura aceitação. Não há por onde fugir. Nesse Novembro ontem e de sempre, tu não prestaste a devida atenção.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Nevoeiro

Este nevoeiro tonto que poderia ser uma manhã de luz e é sempre a mesma sombra. Trazemos sóis no peito e em algum lugar os campos verdes fazem-nos convites lembram-nos de quando o sonho era possível hoje que o sonho não é possível o pior de tudo não é o que perdemos ontem mas o que perdemos, irremediavelmente, no amanhã.