quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Inteira

A minha maior pena de ainda não ter voado é por todos aqueles que quero fazer voar comigo. São tantos, de há muito, de há quase nada. O pai não está cá e eu não o consegui fazer voar a avó qualquer dia deixa de estar e eu sei que metade da minha culpa é tudo o que lhe devo o nada que lhe dou. Os meus amigos, os que acreditam em mim, os que sabem sobre golpes de sorte os que já perdi entretanto. Espero que a vida me permita voar. As minhas asas estarão carregadas de gente. Só isto me fará inteira.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Amor chega

Ele nunca foi a uma reunião da escola, não fazia a mínima da matéria que eu estava a estudar, se havia teste, se estava em risco de chumbar, se eu era a melhor ou a pior da turma. Não sabia o rapaz de quem eu gostava ou a roupa que eu gostava de comprar o meu filme preferido a minha banda de eleição. Às vezes eu tinha de tomar conta dele, outras não sabia dele, foram mais as vezes que me pediu desculpa do que eu a ele. Aos olhos dos outros, o meu pai fez tudo mal. Mas, sabem, estão enganados. Ele fez o principal bem: amou-me sem comparação, embalou-me, aconchegou-me, abraçou-me. O meu pai salvou-me a infância. Tens razão P., o amor chega.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Stand and Still

Não é como a impossibilidade. Está para lá. É pela facilidade, pela falta de culpa, ainda que uma culpa justificada, mas uma vergonha qualquer uma mágoa um qualquer sentimento de que não era preciso de que não era importante de que não precisava de ter sido. Então é uma impossibilidade, crueldade, palavras que se prolongam como o grito que se dá quando para lá desse já não se sabe que caminho seguir para vomitar a mágoa. O último grito que seria o primeiro se existisse uma espécie de expressão para essa coisa que não tem nome. Não tem. É pela forma como dizes, pela foma como apunhalas vez após vez escudado nessa sinceridade que, às vezes, só te faz falta a ti. Só te serve a ti. Não é por me teres chateado, insultado, sei lá. É por me teres diminuido. Roubado. Então acho que levaste qualquer coisa que faltava aqui para poder ser uno. Levaste algo que é teu mas que não eras tu algo que és tu mas em outro tempo, e no entanto, sempre foi assim. Comi isto, não sei se sai do corpo. Ou fica.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Manuel, João, Tiago, Maria, Laura, filho, mãe, pai. Para onde foi toda a gente? Hoje não quero lavar a loiça, hoje não quero dormir sozinha. Manuel, João, Tiago, Maria, Miguel, doem-me as costas, onde terão ficado todos? Rua dos Combatentes, Rua de S. Salvador, Rua dos 4 caminhos, Rua de Baixo, Rua com nome de ditador com nome de jardim com nome de esperança, qual a razão de tantas ruas? Em que lugar me esperam as respostas? Existem respostas? Traseiras do prédio, auto-estrada, IC, Norte, Sul. Todos os caminhos vão dar ao mesmo lugar. Manuel, João, Tiago, Maria, Laura, filho, mãe, pai.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

I used to rule the world

Quando ditamos as regras o mundo parece-nos tão certo. Palavras como maldade, crueldade, vingança, cabem nos outros, nunca em nós. Eu também já mandei no mundo. Foi ontem. E foi num instante.