sábado, 23 de junho de 2012

Obrigada, eu tenho lume

Um dia depois de me dizeres as coisas que eu não sabia, comprei uma arma na Feira da Ladra. Custou noventa cêntimos, o vendedor não se importou de receber tão pouco porque eu tinha um vestido com caveiras e ele um livro com uma caveira porque eu tenho a tatuagem de um bruxo nas costas e ele não tem dentes. Está certo. A vida e a droga podem ser coisas muito parecidas. A arma é um isqueiro. Quando carregamos no botão deverá sair lume pelo cano. Eu não sei se sai. Não tem combustível e se calhar é por isso que só custou noventa cêntimos porque não funciona apesar de ele ter prometido que se não funcionasse me ofereceria, da próxima vez, um isqueiro que fosse uma espada. O vendedor achou que tinha de ser alguma coisa que servisse para lembrar um objecto de morte, claro que as caveiras não ajudaram e se calhar a tatuagem que parece um bruxo mas é um sábio - o costume, portanto - também não. Um dia depois de me dizeres as coisas que eu não sabia comprei um isqueiro que não funciona porque é uma arma, eu, que não gosto de armas, eu que nunca as ofereci nem irei oferecer ao meu menino. Comprei uma arma porque na verdade as coisas que disseste deveriam estar mortas. Ou não existir. O meu reino para não as ter ouvido. Comprei uma arma e gosto dela, ou dele, deste meu isqueiro. Comprei uma arma que é um isqueiro para me lembrar que existem coisas das quais nos precisamos de defender. Por agora, o meu peito não está aberto às balas. Ao primeiro tiro, vou limitar-me a acender um cigarro.

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